Quando um indivíduo decide perder peso, começa a pensar em todas as estratégias possíveis e imagináveis para obter sucesso em sua empreitada. Passa a seguir vários perfis em redes sociais, páginas especializadas em receitas para o emagrecimento rápido, blogueiros (as) que disseminam “métodos novos” e “tendências” para a perda de peso e etc.

Fora do mundo virtual procura profissionais da saúde, uma academia, um personal trainner, lojas especializadas em produtos naturais/orgânicos, clínicas de estética e por aí vai. Começa a frequentar parques, se inscreve em corridas de rua e planeja até se preparar para uma maratona, no entanto, jamais cogita adentrar uma livraria.

Aposto que jamais passou pela cabeça de qualquer pessoa acima do peso, que um grande aliado do emagrecimento é o estudo da filosofia!

Quem ler ou ouvir que a filosofia tem alta relevância no processo de emagrecimento, provavelmente vai desmerecer e descreditar tal afirmação ou até mesmo maldizer quem proferiu tal “insensatez”. 

“Filosofia para quem quer emagrecer? Só me faltava essa”. Sim e quem pronunciar tal insulto contra a filosofia na verdade está com total razão, filosofia era sim tudo que lhe faltava!

Antes de mais nada, equivoca-se quem pensa que é preciso se inscrever em um curso de filosofia para ter conhecimento do assunto! Ora, basta que a pessoa se enverede para o caminho do conhecimento filosófico por meio da leitura, por exemplo. As bibliotecas e livrarias não carecem de boas opções para aquele que decidir apostar no estudo da filosofia como aliado no emagrecimento.

Agora voltando ao tema, é importante discorrer brevemente sobre o papel da filosofia em tempos modernos, já que ao que tudo indica soa muito estranho que o estudo do conteúdo seja relevante na luta contra a balança.

Vamos lá! A pessoa que decidiu perder peso aparentemente estava com “tudo sob controle”, bolou um plano mirabolante que “tinha tudo para dar certo”, até que surgiu a primeira festinha infantil, aniversário de 1 ano do filho do chefe! O que você acha que aconteceu? O plano de emagrecer deu mais errado que as investidas do Coiote para fisgar o Papa-Léguas. 

Tal como o Coiote, personagem antagonista do Papa-Léguas, a pessoa que precisa perder peso muitas vezes traça rotas, planos, calcula a velocidade em que pretende emagrecer, faz uso de toda a tecnologia e invenções disponíveis no mercado, mas mesmo assim todo o esforço é em vão quando sobrevêm as dificuldades.

E você pensa que acabou aí? Como de costume vieram outros eventos, happy hours, festas de casamento, datas comemorativas, feriados nacionais, convites para baladas e para “tomar uma gelada” com os amigos. Aquele plano de perder peso agora parece “difícil demais de ser colocado em prática” diante de tantas festividades e banquetes.

Por amor à filosofia, não se pode deixar de citar os dizeres de Sêneca sobre a questão: “Uma vez dezembro foi um mês, agora é um ano”. 

Não fosse suficiente o convite para os eventos e farras, a pessoa que quer perder peso muitas vezes ainda terá que lidar com sentimentos como: medo, ansiedade, angústia, rejeição, apreensão, insegurança; isso sem falar em críticas, indagações, palavras de desencorajamento e reprimenda por parte de colegas, amigos e familiares. 

O “problema” é que não vivemos só, ao nosso redor estão mais pessoas, todo mundo e nem todo mundo nos quer bem. Em algumas situações você poderá contar apenas consigo mesmo e com mais ninguém!

“Come aí”, “Só hoje”, “Só um pedaço”, “Começou a dieta e ficou chato”, “Toma só uma”, “Hoje é sexta”, “Amanhã você faz regime” e por aí vai.  

Diante da ausência de compreensão e apoio, se socorrer de toda a intensidade e magia das hashtags #força #foco e #fé pode funcionar por algumas postagens nas redes sociais, onde a pessoa obviamente vai dizer “ao mundo” que tudo está sob controle, mas a bem da verdade é que não demora muito para que o mantra seja logo substituído pelo #sextou e #hojepode. O indivíduo rapidamente sucumbiu à pressão e às tentações. 

Todo esse cenário caótico e tragicômico serviu apenas para ilustrar que a mesma pessoa poderia ter vivido um outro desfecho para a sua empreitada de perder peso, se ela estivesse com a sua mente fortalecida pelo conhecimento filosófico. 

Bom e não é só isso, pois compreender melhor o mundo, desenvolver senso crítico e saber lidar com situações do cotidiano podem libertar a pessoa que está acima do peso de diversas enrascadas, tentativas de engodo e reveses.   

Quem quer perder peso normalmente se vê diante de paliativos de nenhuma ou curtíssima eficácia, chás milagrosos, ervas com propriedades de cura, amuletos contra as tentações, loções e poções, pílulas mágicas e até mesmo rezas, mantras, lições baratas de autoajuda, palestras motivacionais duvidosas e programas de “qualidade de vida” questionáveis.

Os incautos não percebem que estão diante de “soluções” procrastinadoras, que são ofertadas no intento de se arrecadar dinheiro com facilidade, assim como não se dão conta de que entra ano e sai ano e os “milagres para a perda de peso” apenas recebem uma nova “roupagem”. 

Citando novamente o personagem Coiote, ao investir dinheiro em “milagres” vendidos pela indústria “ACME” ou outras do tipo, a pessoa não vê que quanto mais compra “armas”, mais fortalece a sua derrota, perdendo tempo precioso com promessas que não vão se concretizar ou gastando dinheiro em produtos que não cumprem com o esperado.

Ao incauto faltou desenvolver senso de credulidade e ceticismo por meio do estudo da filosofia, o que serviria de antídoto para que não fosse vítima de charlatões, vendedores de fórmulas e de gabaritos existenciais. 

Se tivesse tido o prazer da leitura dos vastos ensinamentos de Nietzsche em sua obra “Humano, demasiado humano”, saberia que O que agora chamamos de mundo é o resultado de muitos erros e fantasias que surgiram gradualmente na evolução”, “Toda a vida humana está profundamente embebida na inverdade”, “A maioria é desonesta demais”.

Por estar desprevenida, muitas vezes a pessoa que está acima do peso sequer se dá conta dos ardis empregados por aqueles que querem se beneficiar da situação de saúde em que se encontram e deixam de observar até mesmo o ditado popular “quando a esmola é demais, o santo desconfia”. 

Pois é, não é tão simples assim esse negócio de emagrecimento. É preciso saber lidar com muitas outras questões envolvidas e que vão além do que se coloca no prato e no copo. É necessário que a pessoa faça reflexões, ponderações, se mantenha motivada, tenha discernimento entre o “certo” e o “errado”, entenda sobre a liberdade de agir/escolher e suas implicações, saiba lidar com situações do cotidiano e com as pessoas que a cercam, que tenha autocontrole e etc.

Agora já parece ser coerente a sugestão do estudo da filosofia? Nas sábias palavras do filósofo estoico Sêneca reside a explanação: “Filosofia não é um truque para fisgar o público e não é concebida para aparecer. É uma questão, não de palavras, mas de fatos. Não é perseguida de modo que o dia possa render alguma diversão antes que seja extenuado, ou que nosso ócio possa ser aliviado de um tédio que nos irrita. Molda e constrói a alma; ordena nossa vida, guia nossa conduta, nos mostra o que devemos fazer e o que devemos deixar por fazer; ela se senta ao leme e dirige o nosso curso enquanto nós titubeamos em meio a incertezas. Sem ela, ninguém pode viver intrepidamente ou em paz de espírito. Inúmeras coisas que acontecem a cada hora pedem conselhos; e esse conselho deve ser buscado na filosofia”.

Como se vê, a pessoa que se submete à filosofia e entrega-se a ela, não é mantida esperando; ela é emancipada no ato, pois o próprio serviço da Filosofia é a liberdade. 

Para emagrecer e manter o peso com saúde, o indivíduo deve passar por uma mudança do estilo de vida, através da aprendizagem e implementação de comportamentos benéficos ao corpo, tais como: comer comida de verdade, praticar atividade física, manejar o estresse, almejar uma melhor qualidade do sono e buscar incessantemente o conhecimento, especialmente por meio da leitura. 

Na atualidade, aparentemente a Filosofia não tem mais utilidade, mas tal pensamento não podia estar mais divorciado da realidade. A Filosofia enquanto campo de saber vem perdendo espaço para o conteúdo midiático e para a oferta de soluções medicamentosas. 

Muitos não percebem que estão reproduzindo as informações que recebem em seu dia a dia, sem questioná-las ou investigá-las para comprovar sua veracidade ou se apoiam nos medicamentos para a cura de todos os males.

Ao apostar no estudo sistemático da filosofia, independentemente do tema ou assunto, as capacidades críticas de raciocínio vão sendo treinadas e aprimoradas, assim como subitamente vão sendo tratadas as aflições, os defeitos de caráter, as inquietações da alma e as perturbações cotidianas.

O estudo da filosofia envolve uma mudança de atitude diante da vida, descartando as explicações que nos foram impostas como verdades universais e nos libertando de muitas concepções tormentosas. 

Quem se dedica à filosofia passa a ver o mundo de forma diferente, com um olhar mais atento, crítico e reflexivo, aproximando-se de uma condição de vida mais racional e finalmente aprende a lidar consigo mesmo e com as pessoas de seu convívio, tornando mais fácil o atingimento de seus ideais e projetos, dentre os quais podemos citar o de emagrecimento!

As penúltimas palavras pertencem à Nietzsche, que de forma brilhante nos instiga a buscar o conhecimento: “Compreender tudo isso pode causar dores profundas, mas depois há um consolo: elas são as dores do parto. A borboleta quer romper seu casulo, ela o golpeia, ela o despedaça; então é cegada e confundida pela luz desconhecida, pelo reino da liberdade. (...) Tudo é inocência: o conhecimento é a via para compreender essa inocência”. 

Não se assemelha ao que ocorre com quem está buscando perder peso? A pessoa terá que lidar com a dor, com os percalços, terá que ser paciente para que tudo ocorra ao seu tempo, aos poucos irá rompendo preconceitos antigos sobre a nutrição, sentirá medo por fazer tudo diferente do que passou anos fazendo, mas quando se manter firme em seu propósito atingirá o que almejou. 

As últimas palavras, como já era de se esperar, partem de Sêneca, filósofo estoico pelo qual quem vos escreve tem grande admiração: “Nada impede uma cura tanto quanto a mudança frequente de medicamento; nenhuma ferida cicatrizará quando um bálsamo for tentado um após outro; uma planta que é movida frequentemente nunca pode crescer forte. Não há nada tão eficaz que possa ser útil enquanto está sendo deslocado”. 

Busque incluir a filosofia como modo de vida e tenho convicção de que cada vez seus caminhos serão mais claros, objetivos e fáceis de serem percorridos.

Referências:

CARTAS De Um Estoico. Um Guia Para Uma Vida Feliz. [S. l.: s. n.], 2017.

HUMANO, Demasiado Humano. [S. l.]: Companhia das Letras, 2005.


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